Equipe nacional de oftalmologistas realiza cirurgias de catarata em Faxinal do Soturno e atende cerca de 70 pacientes

A Clínica de Olhos Quarta Colônia, em Faxinal do Soturno, foi o centro de uma grande ação de cirurgias oftalmológicas voluntárias no último final de semana. Ao longo de quatro dias, foram realizadas 72 cirurgias de catarata complexa, atendendo pacientes em situação de vulnerabilidade social, a maioria com mais de 70 anos, que aguardavam há anos por atendimento. A iniciativa faz parte da terceira edição do projeto PhacoRex, idealizado pelos médicos oftalmologistas Gustavo Hüning, Arthur Hüning e Affonso Hüning, e organizada em parceria com o Instituto Peregrino, de Santa Maria.

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A edição contou com oito oftalmologistas vindos de diferentes partes do país. Além dos irmãos Hüning, participaram os médicos Neto Rosatelli (SP), Rafael Arantes (ES), Rafael Kobayashi (SP), Marcos Cohen (AM) e Henrique Rocha (GO), além de uma equipe de quase 20 profissionais, entre enfermeiros, técnicos, auxiliares, recepcionistas, porteiros e faxineiras. O trabalho foi realizado com equipamentos de última geração, que somam cerca de R$ 5 milhões em investimentos, utilizados em procedimentos de alta precisão e complexidade. A estrutura foi montada para garantir segurança, conforto e eficiência em cada cirurgia.

Inspirado no primeiro Projeto Catarata do Brasil, criado em 1994 pelo médico Lair Hüning, pai do atual coordenador, o PhacoRex tem como propósito dar continuidade a um legado familiar de atendimento gratuito e de excelência, voltado especialmente a pessoas com pouca ou nenhuma condição de acesso a tratamentos especializados.

– Foi inspirado no primeiro Projeto Catarata do Brasil, organizado pelo meu pai, Lair Hüning, em 1994, e tem esse nome para homenagear a vocação paleontológica da nossa região – explica Gustavo Hüning.

Estrutura e organização

Faxinal do Soturno foi escolhida para sediar esta edição por já possuir uma estrutura consolidada para atender alta demanda na área de oftalmologia. A cidade abriga a Clínica de Olhos Quarta Colônia, que se tornou referência regional em procedimentos de alta complexidade e conta com um corpo técnico experiente. O Instituto Peregrino, responsável por viabilizar a ação, é uma organização sem fins lucrativos fundada em 2020, em Santa Maria, que tem se destacado na articulação entre pacientes, profissionais e doadores.

– O IP é uma instituição sem fins lucrativos que vive de doações e possui expertise conectando pacientes com necessidades oftalmológicas especiais com doadores, indústrias e médicos – destaca Hüning.

Os pacientes foram selecionados conforme critérios clínicos, priorizando casos de catarata complexa, que exigem técnicas e insumos não cobertos pelo sistema público. Essas cirurgias envolvem maior risco e tempo cirúrgico, já que podem incluir pacientes com histórico de outras doenças oculares, lentes intraoculares especiais ou condições anatômicas que dificultam o procedimento. Por isso, demandam cirurgiões experientes, equipamentos específicos e materiais de alto custo, o que explica o tempo de espera elevado e a importância de iniciativas como o PhacoRex para reduzir a fila de casos mais graves.

Excelência técnica e desafios

O grupo de cirurgiões contou com a participação de professores e orientadores da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM), considerada um dos 25 melhores serviços de oftalmologia do mundo. A presença de especialistas de referência nacional garantiu a execução de procedimentos de alta precisão, aliando tecnologia e experiência clínica.

Apesar da qualidade da equipe e da estrutura disponível, o número de cirurgias poderia ter sido ainda maior. Hüning relata que o principal desafio enfrentado foi o absenteísmo dos pacientes previamente selecionados.

– Nossa expectativa era de realizar mais casos. Mas o absenteísmo ainda é um dos gargalos e resulta em recursos e oportunidades perdidas. Foi uma lástima não termos operado mais – afirma.

Impacto e continuidade

Desde sua criação, o PhacoRex já beneficiou mais de 200 pacientes com cirurgias de catarata complexa. Cada edição reforça o compromisso dos idealizadores em promover atendimento de alta performance aliado à solidariedade. O acompanhamento pós-operatório é garantido por uma estrutura fixa, responsável por monitorar os pacientes até o momento da alta, assegurando a recuperação completa da visão e a prevenção de complicações.

Para Hüning, a iniciativa representa uma contribuição real para o sistema público de saúde, especialmente em regiões onde a demanda supera a capacidade de atendimento.

– Somos cientes de que as filas de espera do SUS são longas. Falar em zerar a fila seja, talvez, utópico. Mas ajudar a diminuir o tempo de espera com certeza é factível – destaca.

O projeto, mantido integralmente por entidades privadas e profissionais voluntários, também busca ampliar suas fronteiras. A equipe já recebeu convites para realizar novas ações no norte do Brasil e em países vizinhos, e há possibilidade de expansão a partir do próximo ano.

O Instituto Peregrino mantém ainda o Mistral (MicroSurgical Training Lab), braço educacional que oferece cursos e treinamentos a oftalmologistas e residentes interessados em aprimorar suas técnicas. Já as pessoas que desejam apoiar o projeto podem destinar parte do imposto de renda ao Instituto Peregrino, contribuindo para a continuidade de ações que, nas palavras de Hüning, “podem mudar a história de muitas famílias”.